Na época, meu irmão tinha seis
anos. Era mais uma criança feliz, saudável e esperta, que frequentava a
escolinha e não tinha problemas de convivência com nenhum de seus colegas,
professores ou familiares. Estava todo tempo a matraquear pelos cantos,
correndo e brincando como se não houvesse amanhã. Seus olhos grandes e de um
verde claro expressavam de sobremaneira todo seu alegre e constante estado de
espírito.
Apesar de toda a intensidade
física das correrias e brincadeiras de meu irmão mais novo, o bairro em que
morávamos, no centro da capital paranaense, não permitia que a criança saísse
às ruas de modo que nossa mãe ficasse sossegada, já que o local era,
essencialmente, urbano e muito movimentado. Residíamos em um apartamento alto,
bem no meio de uma grande avenida que contava com diversas lojas e
estabelecimentos. A frequente e, por vezes, perigosa rotina urbana daquele
local trancafiava a mim e ao meu irmão em casa sozinhos, todas as tardes,
depois da escola.
Certa tarde de inverno, o
apartamento todo fechado, meu irmão, em meio a uma partida de videogame, me
confidenciou algo que, pela sua fala, soava como um forçoso momento em que se
procura fazer o outro acreditar que aquilo que se está dizendo trata-se da
coisa mais normal do mundo: