segunda-feira, 16 de junho de 2014

O menino e o mar

Um pequeno garoto, que vivia numa cidade praiana, ia à beira do mar todos os dias para observar as ondas quebrando adiante.
Não entendia muito bem como funcionava a física envolvida no processo, mas sempre se encontrava obediente e fascinado em suas rotineiras admirações ao extenso e infindável oceano.
O menino, muito magro e miúdo, era um sonhador que, com seus 1 metro e 30 de altura, não deixava suas fantasias mais distantes serem abaladas pelas dores que, tão pequeno, já sofrera. Perdera o pai cedo e a mãe, se desdobrando em mais de um trabalho para manter a dignidade do lar, não conseguia dar a atenção necessária para um imaginativo garoto de 8 anos de idade.
Os bracinhos sempre foram tão finos que de imediato passavam, a quem quer que os visse, uma impressão de extrema e delicada fragilidade. Os pés, ligeiros, sempre descalços, materializando em andanças e correrias tudo aquilo que a intensa mente febril do menino imaginava como possível destino ou atividade. Sempre era visto sorrindo, com algum arranhão ou pequeno machucado recente e com outro já quase totalmente curado, além das habituais manchas e sujeiras que um garoto ativo e intenso colecionava correndo, pulando, se jogando, explorando.
Não se intimidava facilmente e, apesar do que pudessem dizer, acreditava que o pai, há muito ausente, estaria somente a um passo de retornar. Mal se lembrava do seu velho e isso, para ele, era motivo de profunda chateação. Tentava aplacar tal sentimento observando a extensão azul do mar e conjecturando o momento em que veria retornando a pequena embarcação na qual seu pai fora visto pela última vez. Apesar da mente sempre desacreditar tal sonho, o coração ansiava de maneira intensa por tal momento.
A orla da praia era belíssima de se ver, com seus coqueiros, belos rochedos e areia da mais pura brancura. O menino, porém, não desgrudava os olhos do ponto mais distante possível de se ver no mar. Esperava todos os dias. Quando se cansava, ia procurar um bom monte de areia para tentar montar o barco que conheceu e se lembrava, aquele que carregou – e, em sua mente, ainda levava – o seu pai.
Certo dia, um colega seu perguntou:
– Por que você fica o tempo todo olhando pra água?
Por um momento pensativo, o garoto não quis, de imediato, contar a verdade. Receio, talvez, de ser alvo de zombarias. Tal apreensão se confirmou na resposta dada:
– Eu gosto de procurar baleias no mar.
– Baleia? Cê tá louco? Elas não vêm até aqui, são muito grandonas pra isso...
Enquanto afofava a areia, de maneira cuidadosa e ainda pensativa, o menino retrucou:
– Já viram um dia. Ouvi o tio Josué falando que viu uma daquele mesmo lugar que eu fico todo dia.
O coleguinha, mostrando completa descrença no relato do companheiro, disse:
– Mentira do tio...
– Pode ser – respondeu o pequenino miúdo. – Mas se for verdade, eu que não vou querer perder a próxima.
Aquiescendo com a cabeça, como que para o assunto se encerrar em definitivo, o colega do menino voltou a se concentrar por completo na atividade de arquitetura praiana rupestre à qual os dois se dedicavam.
O garoto, então, voltou o olhar mais uma vez, esperançoso, para o pontinho distante no oceano que sua vista alcançava. Não pôde conter esta esperança insistente no olhar. Pois sabia que, se a hora chegasse, lá estaria ele. Poderia se encontrar em algum outro ponto da cidade, na escola ou em casa, mas quando a hora chegasse, ele a presenciaria, pois viria com seus rápidos pulos e ágeis passadas.
– Não vou querer perder, – sussurrou baixinho.

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