Um
pequeno garoto, que vivia numa cidade praiana, ia à beira do mar todos os dias
para observar as ondas quebrando adiante.
Não
entendia muito bem como funcionava a física envolvida no processo, mas sempre
se encontrava obediente e fascinado em suas rotineiras admirações ao extenso e
infindável oceano.
O
menino, muito magro e miúdo, era um sonhador que, com seus 1 metro e 30 de
altura, não deixava suas fantasias mais distantes serem abaladas pelas dores
que, tão pequeno, já sofrera. Perdera o pai cedo e a mãe, se desdobrando em
mais de um trabalho para manter a dignidade do lar, não conseguia dar a atenção
necessária para um imaginativo garoto de 8 anos de idade.
Os
bracinhos sempre foram tão finos que de imediato passavam, a quem quer que os
visse, uma impressão de extrema e delicada fragilidade. Os pés, ligeiros,
sempre descalços, materializando em andanças e correrias tudo aquilo que a
intensa mente febril do menino imaginava como possível destino ou atividade.
Sempre era visto sorrindo, com algum arranhão ou pequeno machucado recente e
com outro já quase totalmente curado, além das habituais manchas e sujeiras que
um garoto ativo e intenso colecionava correndo, pulando, se jogando,
explorando.
Não
se intimidava facilmente e, apesar do que pudessem dizer, acreditava que o pai,
há muito ausente, estaria somente a um passo de retornar. Mal se lembrava do
seu velho e isso, para ele, era motivo de profunda chateação. Tentava aplacar
tal sentimento observando a extensão azul do mar e conjecturando o momento em
que veria retornando a pequena embarcação na qual seu pai fora visto pela
última vez. Apesar da mente sempre desacreditar tal sonho, o coração ansiava de
maneira intensa por tal momento.
A
orla da praia era belíssima de se ver, com seus coqueiros, belos rochedos e
areia da mais pura brancura. O menino, porém, não desgrudava os olhos do ponto
mais distante possível de se ver no mar. Esperava todos os dias. Quando se
cansava, ia procurar um bom monte de areia para tentar montar o barco que
conheceu e se lembrava, aquele que carregou – e, em sua mente, ainda levava – o
seu pai.
Certo
dia, um colega seu perguntou:
–
Por que você fica o tempo todo olhando pra água?
Por
um momento pensativo, o garoto não quis, de imediato, contar a verdade. Receio,
talvez, de ser alvo de zombarias. Tal apreensão se confirmou na resposta dada:
–
Eu gosto de procurar baleias no mar.
–
Baleia? Cê tá louco? Elas não vêm até aqui, são muito grandonas pra isso...
Enquanto
afofava a areia, de maneira cuidadosa e ainda pensativa, o menino retrucou:
–
Já viram um dia. Ouvi o tio Josué falando que viu uma daquele mesmo lugar que
eu fico todo dia.
O
coleguinha, mostrando completa descrença no relato do companheiro, disse:
–
Mentira do tio...
–
Pode ser – respondeu o pequenino miúdo. – Mas se for verdade, eu que não vou
querer perder a próxima.
Aquiescendo
com a cabeça, como que para o assunto se encerrar em definitivo, o colega do
menino voltou a se concentrar por completo na atividade de arquitetura praiana
rupestre à qual os dois se dedicavam.
O
garoto, então, voltou o olhar mais uma vez, esperançoso, para o pontinho
distante no oceano que sua vista alcançava. Não pôde conter esta esperança
insistente no olhar. Pois sabia que, se a hora chegasse, lá estaria ele.
Poderia se encontrar em algum outro ponto da cidade, na escola ou em casa, mas
quando a hora chegasse, ele a presenciaria, pois viria com seus rápidos pulos e
ágeis passadas.
–
Não vou querer perder, – sussurrou baixinho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário