para onde foram os lírios? pois em frente vejo só
destruição
para que destino seguiram a grama e os pomares? às
cinzas se fundiram?
pois só vejo cinzas daquilo que foi fogo
fogo que aqui acabou com tudo aquilo que se era bom
de se ver
e enquanto olho, meus olhos parecem não querer
conhecer
aqueles que queriam que conhecêssemos como nossos
proprietários
num momento de fúria, à paisagem causaram dor
e a dor vem em mim agora
forte e
única
porque sei que além dos lírios destruídos
a terra outrora tão bonita e agora arruinada, cinza
e em chamas, infértil e ferida
também foi palco da matança daqueles meus
que comigo dividiam a ceia e
comigo passavam a madrugada e
junto de mim trabalhavam e apanhavam e
sabiam saborear a brisa do final de tarde,
apesar de todo sofrimento;
os que não jazem junto à terra devastada
correram ligeiros tentando alcançar o distante
destino
para, todos sabemos, morrerem logo
pela mão do carrasco
ou pelos dissabores do caminho
oh, as lágrimas em meus olhos
não me impedem de reconhecer, à frente, a cavalo,
aqueles que antes nos açoitavam
mas agora nos destruíram
chegando, golpeando seus animais, com o ódio
demoníaco da destruição
nos próprios olhos;
próprios demônios a galope
de armas em punho e semeando devastação por onde
passam;
e eles vêm em minha direção
estremecendo, sinto no coração
o medo diante de toda esta escuridão
mas minhas pernas não querem mais correr
meu ser não quer mais fugir
e nem um grito consegue subir garganta acima
pois tudo o que vejo e sinto
não passa do frio punho do destino
caindo sobre nós
demônios a galope
olho mais uma vez para o lado, as cinzas a dançar
quilômetros a fio
onde o fogo já não mais se banqueteia
satisfeito pela morte já provocada
demônios a galope
para onde foram os lírios?