quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Diário matinal de uma avenida urbana

Naquele dia o sol castigava aqueles que se expunham a ele mais do que o habitual, seja pela ausência de nuvens ou mesmo pela estação do ano propícia a isso. As árvores exibiam seu verde vivo e forte que dançava em diferentes ritmos à medida que o vento cortejava suas folhas e galhos. Oito horas da manhã e a avenida não estava tão abarrotada como sempre, apesar de contar, em seus dez quilômetros de extensão, com uma considerável quantidade de carros transitando, acelerando, parando, se arriscando, atrasados e sossegados.
Dia comum. A não ser por algumas figuras.
Quilômetro 1,5: no ponto de ônibus lá estava o bêbado, em plena manhã de quarta-feira, conversando com o imaginário ou aquilo que os outros sóbrios – pobres deles – não podiam ver. Gesticulava, enquanto descansava naquele banco destinado aos pacientes futuros passageiros do transporte coletivo. Apontando para o lado, no sentido dos carros que seguiam naquela faixa, soltou uma gargalhada. Certamente era o mais feliz sujeito daquela avenida e um dos mais felizes da cidade inteira, pois não se importava com nada além de seus devaneios surreais. Um sujeito de sorte.