Naquele dia o sol castigava aqueles que se expunham a ele mais do que
o habitual, seja pela ausência de nuvens ou mesmo pela estação do
ano propícia a isso. As árvores exibiam seu verde vivo e forte que
dançava em diferentes ritmos à medida que o vento cortejava suas
folhas e galhos. Oito horas da manhã e a avenida não estava tão
abarrotada como sempre, apesar de contar, em seus dez quilômetros de
extensão, com uma considerável quantidade de carros transitando,
acelerando, parando, se arriscando, atrasados e sossegados.
Dia comum. A não ser por algumas figuras.
Quilômetro 1,5: no ponto de ônibus lá estava o bêbado, em plena
manhã de quarta-feira, conversando com o imaginário ou aquilo que
os outros sóbrios – pobres deles – não podiam ver. Gesticulava,
enquanto descansava naquele banco destinado aos pacientes futuros
passageiros do transporte coletivo. Apontando para o lado, no sentido
dos carros que seguiam naquela faixa, soltou uma gargalhada.
Certamente era o mais feliz sujeito daquela avenida e um dos mais
felizes da cidade inteira, pois não se importava com nada além de
seus devaneios surreais. Um sujeito de sorte.