Acordou no meio da
noite, a escuridão envolvendo o quarto quase que por completo à exceção da
luzinha da bateria do notebook que piscava sua fraca claridade azul para avisar
que estava em processo de recarga.
Estava meio zonzo.
Sonho ruim. Olhou de lado, virou para o outro, pra cima e para baixo, sem
conseguir decifrar seus próprios sentimentos imediatos.
Ora, por que havia
acordado àquela hora e, mais, por que se levantou assim? Poderia muito bem ter
permanecido ali, deitado e paciente, esperando o sono voltar a abraça-lo.
Tolo, pensou.
Resmungando, colocou as
pernas na beirada da cama. “Que merda é
essa?”
Sabia, com certeza, que
não precisava ir ao banheiro e que sua garganta não estava seca, não
necessitando naquele momento se levantar para ir à cozinha buscar água. Duas
necessidades tidas como urgentes que descartara de pronto. Contudo, mesmo
assim, sentia falta de algo. Mas independente disso, amaldiçoando aquele
momento, não sabia o que procurar, ou onde, ou como.
– Como se eu tivesse
tempo pra essas palhaçadas... – queixou-se enquanto esfregava os olhos
preguiçosamente.
Deitou-se novamente.
Coçou a bunda, virou de lado e tentou fechar os olhos.
Nada.
Esteve a ponto de se
levantar e sair correndo de lá, gritando pela casa, ganhar e rua e avançar de
cuecas esperneando pelo breu noturno das ruas esburacadas da região até cair ou
ser detido por alguém.
Esteve também a ponto
de simplesmente ir até a sala, se sentar e assistir qualquer porcaria na tevê.
Mas a ideia que mais o
seduziu foi a de permanecer ali, mesmo. Se ele estava ficando louco, que fosse
sem a fadiga de movimentos corporais desnecessários.
Tentou dormir novamente
e, para sua surpresa, quase conseguiu. Foi o barulho lá de fora do caminhão de
lixo passando pela rua o tirou de seu transe pré-sono.
Praguejando enquanto
rolava novamente na cama, se perguntou o porquê daqueles viados passarem por
ali tão tarde da noite. Se bem que, em outras oportunidades, ele nunca foi
incomodado pelos barulhos externos.
Deitou de barriga pra
cima. “É isso aí, meu chapa”, pensou,
“bem-vindo ao inferno da insônia”.
Será?
Olhou de lado para a
luzinha da bateria do notebook, agora acesa em um azul ininterrupto e mais
forte.
Poderia estar sonhando
tudo aquilo, afinal. Sonhos reais como uma mão que te dá um tapa na cara eram,
para ele, possíveis e demasiadamente frequentes. Sentia-se perdido na
escuridão, não do quarto (o recinto em trevas era o menor de seus problemas),
mas sim de sua mente.
Realidade? Sonho?
Frescurite? Insônia? Iria acordar em breve? Água? Mijo? Rolar? Tentar pegar no
sono de novo? Bolas.
Remexeu-se de novo.
Olhou para a luzinha do notebook.
Azul.
E piscava.
Como encontrar um fim
para isso? Queria que a consciência fosse embora. Queria dormir. Sem sonhos.
Sem nada. Sem essa aporrinhação louca de vira-e-mexe na cama e luzes e sons e
cabeça latejando.
Luz. Azul. Fixa.
Ele piscou.
A luz se apagou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário