sexta-feira, 13 de março de 2015

Bateria

Acordou no meio da noite, a escuridão envolvendo o quarto quase que por completo à exceção da luzinha da bateria do notebook que piscava sua fraca claridade azul para avisar que estava em processo de recarga.
Estava meio zonzo. Sonho ruim. Olhou de lado, virou para o outro, pra cima e para baixo, sem conseguir decifrar seus próprios sentimentos imediatos.
Ora, por que havia acordado àquela hora e, mais, por que se levantou assim? Poderia muito bem ter permanecido ali, deitado e paciente, esperando o sono voltar a abraça-lo.
Tolo, pensou.
Resmungando, colocou as pernas na beirada da cama. “Que merda é essa?”
Sabia, com certeza, que não precisava ir ao banheiro e que sua garganta não estava seca, não necessitando naquele momento se levantar para ir à cozinha buscar água. Duas necessidades tidas como urgentes que descartara de pronto. Contudo, mesmo assim, sentia falta de algo. Mas independente disso, amaldiçoando aquele momento, não sabia o que procurar, ou onde, ou como.
– Como se eu tivesse tempo pra essas palhaçadas... – queixou-se enquanto esfregava os olhos preguiçosamente.
Deitou-se novamente. Coçou a bunda, virou de lado e tentou fechar os olhos.
Nada.
Esteve a ponto de se levantar e sair correndo de lá, gritando pela casa, ganhar e rua e avançar de cuecas esperneando pelo breu noturno das ruas esburacadas da região até cair ou ser detido por alguém.
Esteve também a ponto de simplesmente ir até a sala, se sentar e assistir qualquer porcaria na tevê.
Mas a ideia que mais o seduziu foi a de permanecer ali, mesmo. Se ele estava ficando louco, que fosse sem a fadiga de movimentos corporais desnecessários.
Tentou dormir novamente e, para sua surpresa, quase conseguiu. Foi o barulho lá de fora do caminhão de lixo passando pela rua o tirou de seu transe pré-sono.
Praguejando enquanto rolava novamente na cama, se perguntou o porquê daqueles viados passarem por ali tão tarde da noite. Se bem que, em outras oportunidades, ele nunca foi incomodado pelos barulhos externos.
Deitou de barriga pra cima. “É isso aí, meu chapa”, pensou, “bem-vindo ao inferno da insônia”.
Será?
Olhou de lado para a luzinha da bateria do notebook, agora acesa em um azul ininterrupto e mais forte.
Poderia estar sonhando tudo aquilo, afinal. Sonhos reais como uma mão que te dá um tapa na cara eram, para ele, possíveis e demasiadamente frequentes. Sentia-se perdido na escuridão, não do quarto (o recinto em trevas era o menor de seus problemas), mas sim de sua mente.
Realidade? Sonho? Frescurite? Insônia? Iria acordar em breve? Água? Mijo? Rolar? Tentar pegar no sono de novo? Bolas.
Remexeu-se de novo. Olhou para a luzinha do notebook.
Azul.
E piscava.
Como encontrar um fim para isso? Queria que a consciência fosse embora. Queria dormir. Sem sonhos. Sem nada. Sem essa aporrinhação louca de vira-e-mexe na cama e luzes e sons e cabeça latejando.
Luz. Azul. Fixa.
Ele piscou.
A luz se apagou.

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