– Raimundão! Ê, Raimundão! –
chamou o balconista pela janelinha de dentro da conveniência. Raimundo acabara
de recolocar a mangueira em seu devido lugar. – O Branquinho quer falar com
você lá na sala dele...
Agradecendo com um aceno de
cabeça, Raimundo começou a se encaminhar lentamente para os fundos do
estabelecimento, onde ficava um pequeno complexo acinzentado contendo, dentre
espaços destinados aos próprios funcionários, um gabinete dentro do qual o gerente
do posto de gasolina se aninhava e vivia lançando comandos administrativos
bestas aos subordinados pelo telefone.
Humildemente, o frentista bateu
de leve na porta do chefe e colocou a cabeça para dentro da sala.
– Oh, olá, Raimundo, gostaria
de dar uma palavrinha contigo – o gerente, apelidado sarcástica e secretamente
de Branquinho pelos empregados do posto, se pavoneava com diversos dos seus
itens excêntricos de coleção espalhados pela mesa. – Pode se sentar, homem, não
tenha medo – emendou o gerente. O homem não era má gente, afinal.
Coçando a cabeça, já aguardando
pelo pior, Raimundo se sentou na dura poltrona cor de carne dos anos 80
enquanto revezava seu olhar de Branquinho para anéis de lata jogados pela mesa
e vice-versa.