Eu tinha um porco de argila.
Ainda tenho, na verdade. Devo tê-lo já há mais de cinco anos e venho o enchendo
desde então.
Nele só entram moedas de 1
real. Essa é a condição primordial que eu estabeleci para o preenchimento do
interior deste porquinho. Acredito que tal encargo seja o motivo principal pelo
qual a pequena figura suína com um corte nas costas ainda exista. Afinal, não é
algo lá muito comum eu chegar em casa com uma moeda de 1 real.
O pequeno porco de argila foi
um presente de meu pai. Chegou despretensioso, foi conquistando seu lugar na
minha mesa e hoje em dia reina soberano e pesado nela, sempre me encarando com
seus olhos profundos que são verdadeiros furos sem vida no barro – mas que,
surpreendentemente, conferem uma vivacidade peculiar ao cofrinho.
Hoje, o porco-cofre-de-argila
já deve ter ultrapassado a barreira dos 3 quilos. Não sei ao certo, não me dou
ao trabalho de pesá-lo. Somente o contemplo e admiro, pois trata-se de um
sobrevivente dos anos, que resistiu e resiste bravamente ao golpe fatal do
martelo.
Aí vem a pergunta óbvia: quanto
será que tem ali dentro? Não sei. Não consigo fazer ideia. A quantia já me é
estranha e desconhecida, completamente o oposto do porquinho de argila. Mais
que um adorno à mesa, ele se tornou uma presença marcante, um mascote simbólico
e especial.
Já há mais de cinco anos
comigo.
O porco-cofre, apesar de estar
bem pesadinho, não carrega ares de cansaço. Ao contrário: sua robustez o ajuda
na fixação e sustentação das pequenas patas barrosas.
Bem. Chegará o momento do golpe
de misericórdia, a pancada fatal, o fim do meu porco de argila. À medida em que
ele vai ficando demasiadamente cheio, o instante de ruptura bate à porta. Pobre
do porquinho. O vencedor de anos.
Se anteriormente eu ansiava por
descobrir o quanto juntei financeiramente, hoje tenho lá minhas dúvidas se
quero trocar isso pelo meu simpático porquinho de argila.
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