Dirijo.
Trabalhava em um novo projeto
de condomínio. Ainda estava no rascunho e não sabia dizer se ficaria bom. Minha
precocidade na função conferia a cada ato meu uma grande pitada de incertezas.
Mas esta gama de possibilidades me fascinava. Meus desenhos, que antes eram
cheios de vida mas um tanto quanto imaginativos demais, passaram a ganhar
traços verossímeis e realistas, coisa que facilitaria o processo de aceitação e
posterior execução daquilo que foi projetado. Essa era a tendência. O lápis
ainda deslizava sobre a folha com um certo vigor, mas possuía uma trajetória
diferente que outrora tivera. Eu estava aprendendo. Isso já era algo a se
celebrar.
Terminava um gramado qualquer
quando o telefone tocou.
Acidente feio. Mortes. Eu sabia
quem. Deveria me apressar. Perdi o chão. Larguei tudo. Corri. Era noite.
Chovia. Entrei no carro. Dei a partida. Arranquei. Estava desorientado. Sinal.
Vermelho. Furei. Não pensava. Alucinado. Caótico. Acelerava. Rápido. Para-brisa
molhado. Faixa contínua. Mão dupla. Enxergava muito mal. Pensava em tudo. E em
nada. Não diminuía. Ainda longe. Acelerei. Outro sinal. Vermelho.
Dirigia.
A luz à esquerda surgiu e
repentinamente cresceu, envolvendo tudo ao meu redor, rápida.
Não ouvi estrondo algum.
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