sábado, 21 de junho de 2014

Duelo ao meio-dia

O vento batia violentamente em sua capa, como em um daqueles dias onde a noite rapidamente chegaria em meio à tempestade do crepúsculo que se aproxima ao sudoeste.
O sol, à pino, demonstrava que o dia ainda seria longo.
Para um deles, não. O dia acabaria ali, naquele momento. Em questão de minutos. Para um deles, o sol não brilharia mais, a vida não existiria mais.
Tantas vezes ele já se encontrou naquela posição. Endurecido pela vida, o pseudo protetor da cidade que, às vistas do primeiro sinal de desordem em seu habitat natural, desafiava a quem quer que fosse para prestar satisfação.
Todavia, o atual caso era diferente. Apesar de ser íntimo da situação do duelo individual, do mano-a-mano, não via o atual embate como uma repetição daquilo que em incontáveis ocasiões vivenciara.
O homem que se encontrava a alguns metros de distância viera de outras bandas. Não era um homem apegado aos bons costumes sociais e chegara à cidade para, além da baderna habitual, encher de temor os corações dos simplórios moradores daquele naco de sociedade que habitava no meio de uma imensa paisagem desértica.
Embriaguez exagerada, a taverna da cidade completamente devastada, dois assassinatos e a filha do senhor Jameson provavelmente abusada pelas sórdidas e nojentas mãos daquele cafajeste. O miserável tinha de morrer.
Enquanto pensava em tudo isso, ele começava a preparar mentalmente o rápido movimento que teria de executar para tirar sua arma do coldre e apertar o gatilho de forma precisa antes que o outro homem cumprisse tal procedimento de forma satisfatória.
Bud Ropeburn era pragmático. Nunca perdera nenhum dos desafios pelos quais passou. Sempre desferiu o ataque de forma impecável. Apesar de não ter sido nomeado xerife, era, de certa forma, o porto-seguro daqueles seus concidadãos. Era rápido, conhecia bem sua pistola, não possuía medo e sua pontaria causava inveja em muitos atiradores de outras bandas.
Porém, o homem do outro lado carregava no lombo um legado peculiar.
Era implacável, violento e também não era ruim de pontaria. Dizia-se, inclusive, que fora ele quem acertou Billy The Kidd Cornell em plena perseguição montada a mais de 50 metros de distância.
Procurando ignorar todos estes fatos, Bud se mantinha frio como uma noite de outono e tão impassível que qualquer um que o visse poderia dizer que era uma estátua muito bem construída. Suava muito, porém. O sol não estava para brincadeira.
E nem ele.
Fora dado o sinal. O maldito do outro lado teria o que merecia. Bud sacou rapidamente sua pistola e tudo que se pôde apreender da cena num contexto geral foram dois homens que atiraram praticamente ao mesmo tempo, um na direção certeira do outro.
Ropeburn viu o miserável tombar de forma fatal. Acertara bem no meio de sua cabeça horrenda. Porém, ao mesmo tempo, sentiu-se tombar com os seus um metro de setenta e oito no chão, de forma irresistível e doída.
Foi aí que se apercebeu da já enorme poça de sangue que se formara no lado esquerdo de seu peito. Sentira a ferroada no momento decisivo, mas mal havia notado a dor, tremenda era sua apreensão e concentração para derrubar o outro homem.
Bud Ropeburn já não via mais seus colegas que corriam para acudi-lo.
Sentia o gosto da areia da rua em sua boca e, com os olhos semicerrados, não via mais nada além da grande esfera solar que se erguia acima de todos.
Então, sentiu aquela infernal pontada novamente no peito e, lentamente, notou que uma pequena multidão se reuniu em volta de seu corpo estirado.
Já não ouvia mais os cavalos, já não pensava mais no adversário morto.
Já não sentia o cheiro de mais nada além do próprio sangue e, em questão de segundos, o sol do meio-dia já não era nada mais além de escuridão.

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